quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sapatos de Domingo

Sendo domingo, era dia de andar. Dia de Cao. Todos os domingos o menino vinha me acompanhar. Cao segurava seu guarda-chuva preto acima da cabeça. Todos perguntavam: – Ô menino, pra que esse guarda chuva se nem tá chovendo, ainda mais desse tamanho? – Eu não preciso perguntar. Cao vive de chinelos e todas as vezes me perguntava, mesmo sem falar, por que eu uso sapatos. Nunca falei a resposta. Até tentei, no começo, dizer algo como: – Homens têm que andar de sapatos – ou – Se chover molho os pés e pego uma gripe – e até – Andar de chinelos me dá calos – e ele sabia que não era isso. Cao andava e dançava, girando o seu guarda-chuva, enquanto conversávamos. Quantos anos deveríamos ter? uns mil e cem anos talvez. Eu mil e ele cem. Me falou que no dia que ele montar um parque de diversões, eu vou ficar em cima do tanque de acertar o alvo, quer ver se eu vou ficar de sapatos. Ele nunca me perguntou o nome. Já o de muitas coisas, mas não o meu. Nem precisava, eu acho, sou mesmo um cara-de-Fulano. Voltando, lá se ia Cao de novo, todos rindo de seu guarda-chuva na cabeça, e nos dizíamos até domingo com o pensamento.

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