domingo, 28 de fevereiro de 2010

Cartas para Geraldine Lespar II



Eu vinha atrasando o trabalho, cometendo erros, então, num dia, eu acabei perdendo a paciência com o meu chefe, o senhor Bertrand, um cara que nem sequer sabe o significado da palavra ética e que adora jogar a caneta no chão enquanto conversa com as funcionárias, só para ter uma visão melhor da paisagem. Resultou na minha demissão, que, na verdade, eu só não tinha pedido há mais tempo porque assim ficaria sem emprego e sem os benefícios. Diante dessa confusão toda eu me vi sem ter como pagar o aluguel, logo, sem ter onde ficar.
E eu estava remoendo exatamente isso sentada num banco na rua quando falei “Já deu né?!” em voz alta sem querer. Uma mulher, que só então eu percebi que estava ao meu lado, achou que eu tinha falado com ela, e eu estava a ponto de explodir de vergonha, mas alguma coisa na minha expressão deve tê-la preocupado porque ela começou a querer conversar e eu acabei desabafando tudo, assim como estou fazendo agora. Ela provavelmente se apiedou de mim, porque contou que era dona de um prédio modesto, nesse prédio tinha um apartamento vago e, se eu quisesse, eu poderia ficar lá até aparecer alguém, porque ela era imigrante e sabia bem o que era ficar sem ter onde morar nesta cidade. Caiu como uma luva. Eu engoli minha vergonha, aceitei a imensa ajuda e agradeci tanto que ela me pediu pra parar.

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