quarta-feira, 5 de abril de 2017

Encerre o ato.
Por trás das cortinas dos teus olhos se emaranham fragmentos dos bastidores de teus sonhos.
Tudo usado, gasto, com a poeira mal batida do teu ânimo.
O que já foi exibido, criado, recitado no teu palco malamanhado de pantomimas diárias, jaz amontado nos dois cantos onde a luz dos teus holofotes não bate mais.
Encerra teu espetáculo e tudo é recolhido, reavaliado, reutilizado, queimado em fogueiras para espantar tuas traças teimosas.
Te prepara para o outro dia, a próxima bilheteria já está pedindo assentos na fileira da frente, trata de tudo parecer limpo e cálido.
Por último, trata o teu silêncio úmido com respeito, ele é o elemento que segura em pé as paredes do teu teatro, ele unirá do ar os resquícios das personas tuas e as guiará para seu devido lugar nas estreitas coxias do teu enredo.
Tudo está quieto.
Agora, tudo que te resta é a arte esgarçada e insuspeitadamente fajuta respirando por trás de tuas cortinas fechadas.