sexta-feira, 26 de novembro de 2010

By Vinícius

"Só sei que sua casa é perto da minha infância."

     A casa do Arlequim é preta e branca: um lado do telhado é preto o outro é branco, um lado da casa é branco e o outro é preto.


          Já a do Coringa é colorida ao modo dos antigos palhaços e
    cuspidores de fogo.


                      Mas ambas são confusas.

Cartas para Geraldine Lespar XIV

     Vertigens internas. Deus meu! Bom, se eu estiver certa, acho que essa última carta deu mais a entender, ainda que implicitamente, a relação entre ela e Geraldine.

     Depois percebi que na carta anterior tem um nome que parece de cidade, “Courveneuve”. Revirei a idéia de começar a pesquisar a partir daí. Mas só depois de me curar, claro.

Cartas para Geraldine Lespar XIII

“ Até a primeira badalada
  Pertenço ao Sol

  Pertenço ao Brilho Final
  Até a segunda

 
  E depois

  Às Estrelas do Ar

 
  Porém na última badalada

  Onde tudo se encerra

 
  Perceberás que eu tão somente

  Pertenci a ti ”

Cartas para Geraldine Lespar XII


Por um momento me confundi sobre que gripe ela falava. Pela aparência, essa carta é uma das mais antigas do pacote e é estranho o tanto que é diferente da primeira que abri. Essas particularidades; ter pena, ser difícil, necessário, preparativos de Alina, “o Pombo”; me deixaram mais curiosa ainda. De qualquer forma, aí está a confirmação do que eu imaginava: S. B. é mesmo uma mulher.

A terceira carta, diferente das duas anteriores, eu não escolhi, ela que me escolheu. Tem uma florzinha esquisita desenhada no envelope, no lugar do destinatário. Dentro tinha apenas um papel diferente e pequeno, escrito com a mesma letra, mas de forma diferente.

Cartas para Geraldine Lespar XI

    
“ G.


     
   Passei a adorar as tardes de verão. Todas as chuvas me lembram você. A propósito, espero que tenhas melhorado da gripe.

      Mamãe fala-me constantemente sobre rapazes, os ‘partidos casáveis de Courveneuve’. Tenho pena dela. Também é uma pena; ela não teria pena alguma de mim, se soubesse.

     É tão difícil! Diga-me que sentes o mesmo! Quase não suporto. Apenas o faço porque sei que é necessário. Mas me desgosta muito que seja. Perdoe-me a brevidade desta carta, não tenho muita folga nos preparativos de Alina

     P.S.: Desculpe a demora, o Pombo esteve ocupado.
    
 S.B."

Cartas para Geraldine Lespar X


Já completava um mês que eu estava no apartamento. Veio o inverno por essa data e, como de costume, peguei uma gripe assustadora, tenho, desde pequena, uma certa tendência à inflamações. Não foi muito favorável entrar em licença médica na primeira semana de trabalho, mas não tive escolha, não pude nem sair do apartamento, ou do colchão. Acho que não preciso dizer que abri mais uma carta, duas na verdade.

Cartas para Geraldine Lespar IX


Não chegou mais nenhuma carta. No primeiro final de semana após a correria, foi só no que consegui pensar. A carta aberta ainda estava em cima da caixa, eu passava horas olhando para ela ou relendo-a..

Cheguei uma vez a sonhar, e foi uma coisa muitíssimo estranha, sonhei com S. B., não me pergunte como, mas eu sei que era. Foi um sonho aflitivo e íntimo demais para uma figura que eu nunca vi. Mas teve um particular: no meu sonho, S. B. era mulher. Passei quase três dias seguidos pensando nisso. Quer dizer, por que será que eu imaginei assim, se é que eu imaginei? será que foi pela forma da escrita, o que quer que isso seja? será que S. B. é mesmo mulher? será que é como foi no meu sonho? e outra coisa, por que cargas d’água eu estou tão envolvida com isso? Reli mais algumas vezes a carta, mas não encontrei nenhuma indicação parcial. De qualquer forma, depois disso não consegui pensar em S. B. como qualquer outra coisa senão como uma mulher

sábado, 13 de novembro de 2010


"Tell then
I am
I was"
– Como é o hiato da memória de uma casa onde o morador nunca nasceu?
– É do jeito que o vento enrola pra dar a penúltima volta. Tem cheiro de madeira-pedra e cor de azul-castanholas; tem noites que nele há brinquedos, tem noites que nele há segredos, mas só podes vê-lo à tarde na beira do primeiro crepúsculo

Calyx

   Dark is the Night
   And numb is the wind
The Dark makes so noise
As the Silence does
   Just she’s at the window
Of some Nightly Tree
        And blue goes the Tree
        And blue goes her
The Pallid Blue of her eyes
On the darkness
Wavers as the Candle does –
With a hesitant – fearful – breath –
             Extinguish

Dandelion

Tão bonita e bailarina ia a menina, primavera de todo, algumas datas somente, plena de rosas e dourados. Rodopiava em ventanias e algo como dentes-de-leão, de um jeito sem depois, até sumir-se poente no horizonte.

Querido Zarot

Querido Zarot,

Hoje eu fiz uma coisa feia. Os meninos Zeff me viram com raiva do Barto e acharam que eu tinha derramado tinta no caderno dele. Não fui eu, mas eu não disse nada e eles me chamaram para andar com eles. Todos tem medo deles e eles me chamaram pra ir junto, e eu fui. Fomos no terreno, fizemos coisas bem bobas e conversamos, e passeamos pela rua. Aí o Zeff encontrou o Cato, que é doente. Ninguém sabe o que ele tem, mas ele é muito magro e a mãe dele não deixa ele jogar na rua. O Zeff riu e falou da irmã dele e o Cato não disse nada, ficou com cara de quem ia chorar mas se segurou. Todos riram do que o Zeff disse, e eu também, mas quando eu olhei pro Cato, fiquei sem saber se isso era certo fazer. Foi aí que o Zeff falou:
– Ei guri! É, você. Não foi você que riscou o caderno do vermelho do Barto? Vem cá.
Aí eu fui e ele riu mais do Cato e disse:
– O que você acha guri? Esse magrela não é nojento? Vamos diga, o que você acha?
O menino olhou pra mim com muita raiva, mas eu falei. Eu falei coisas feias da família dele, que eu nem conheço, e todos riram muito. O Zeff também riu e gostou do que eu disse. Fomos embora depois do Zeff chutar o Cato e deixar ele no chão, chorando. Sabe Zarot, eu ainda não entendia o que eu estava sentindo, mas alguma coisa não estava bem.
De tarde, na aula, a Senhorita Margot falou sobre uma guerra que aconteceu, e eu só comecei a prestar atenção mesmo na parte dos soldados. Ela falou que o líder mandava e os soldados entravam na casa das famílias que eram de uma religião que eles achavam errada, e quebravam tudo e machucavam as pessoas e levavam até as crianças. Ela também contou que tinha umas cartas de um soldado, não lembro o nome, onde ele disse que ficava muito triste pelas famílias e não gostava de fazer aquelas coisas porque ele não entendia por que aquelas famílias eram diferentes da dele.

Aí eu entendi. Eu fiz a mesma coisa que os soldados.

Mrs. Johnasson

I don’t like who you are now, Mrs. Johnasson.

Why don’t you say something about this?

I dreamed of you, Mrs. Johnasson.

And in this dream, you died.

But you know this, don’t you, Mrs. Johnasson?
Se os cinco fragmentos do teu
sonho tornarem-se sete
Vira-te por inteiro para o lado
onde nasceste e recolhe teus imperdícios
Quando todos os inúteis que
te impuseram te repudiarem
Ama a ti mesmo e à viagem
e busca as estrelas que puderes recolher
*
...
Sinta-me
Sinta-me ainda que eu não habite teus pensamentos
Sinta-me nos momentos mais serenos e inesperados
Sinta-me na tua pele e no teu sono
Sinta-me no final de um sorriso e na ponta de uma brisa
Sinta-me na curva de uma lembrança ou em qualquer outra coisa
Sinta-me ainda que tua vida seja por demais extensa para minha essência
Mesmo que por um momento
Mesmo que por uma vez
Sinta-me

Incoerente

Um absoluto resoluto
por si só entrávico e intransigente
se aboleta na mente oca
e lá se queda
Incoerente

HWA

Ele disse “Estou apaixonado por você”. Disse isso de chofre, por ciúme e medo.
Ela, qual borboleta, quedou hirta, disse “Tenho que ir” quase inaudível e o deixou sozinho pra nunca mais.
O que redime sua mente é que ela sabe que, talvez por isso, jamais poderá amar alguém.