sábado, 13 de novembro de 2010

Querido Zarot

Querido Zarot,

Hoje eu fiz uma coisa feia. Os meninos Zeff me viram com raiva do Barto e acharam que eu tinha derramado tinta no caderno dele. Não fui eu, mas eu não disse nada e eles me chamaram para andar com eles. Todos tem medo deles e eles me chamaram pra ir junto, e eu fui. Fomos no terreno, fizemos coisas bem bobas e conversamos, e passeamos pela rua. Aí o Zeff encontrou o Cato, que é doente. Ninguém sabe o que ele tem, mas ele é muito magro e a mãe dele não deixa ele jogar na rua. O Zeff riu e falou da irmã dele e o Cato não disse nada, ficou com cara de quem ia chorar mas se segurou. Todos riram do que o Zeff disse, e eu também, mas quando eu olhei pro Cato, fiquei sem saber se isso era certo fazer. Foi aí que o Zeff falou:
– Ei guri! É, você. Não foi você que riscou o caderno do vermelho do Barto? Vem cá.
Aí eu fui e ele riu mais do Cato e disse:
– O que você acha guri? Esse magrela não é nojento? Vamos diga, o que você acha?
O menino olhou pra mim com muita raiva, mas eu falei. Eu falei coisas feias da família dele, que eu nem conheço, e todos riram muito. O Zeff também riu e gostou do que eu disse. Fomos embora depois do Zeff chutar o Cato e deixar ele no chão, chorando. Sabe Zarot, eu ainda não entendia o que eu estava sentindo, mas alguma coisa não estava bem.
De tarde, na aula, a Senhorita Margot falou sobre uma guerra que aconteceu, e eu só comecei a prestar atenção mesmo na parte dos soldados. Ela falou que o líder mandava e os soldados entravam na casa das famílias que eram de uma religião que eles achavam errada, e quebravam tudo e machucavam as pessoas e levavam até as crianças. Ela também contou que tinha umas cartas de um soldado, não lembro o nome, onde ele disse que ficava muito triste pelas famílias e não gostava de fazer aquelas coisas porque ele não entendia por que aquelas famílias eram diferentes da dele.

Aí eu entendi. Eu fiz a mesma coisa que os soldados.

Um comentário:

  1. Que obra-prima.

    Desenhastes algo imensamente profundo em linhas de inocência leve e linda.

    Tu escreves pra caralho.

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