domingo, 29 de janeiro de 2012

De fogueira

Dança de vestido louco, parceiro de fogo, véu de noite e fumaça. Dança e rasga comigo essa canção, que chove dá de adoração a raiva e a beleza. Corta os pés na lucidez insana, encandeia a vida que tudo cansa. Mata a fome de alma e tempo, mata a falta e mata o vento, sê perfeito e furioso, que nada mais vale a pena.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Nina e AnaB

Nina vivia de batons de farmácia e bebidas de conveniência. Nina era vulgar, simples e de passagem. Fazia um pouco de tudo por aí, sobrevivia. Sobrevivia vulgarmente feliz com pouco e tanto de tudo. Até que veio Anabelle. Aí Nina caminhava mais devagar, mas ainda caminhava. Não passava mais pelos mesmos lugares, e tinha que fazer muito mais e menos coisas, mas Anabelle era tão a vida que Nina não sabia que existia, que Nina viveu todinha.

Aos calouros

Sinta-se à vontade para entrar. Partilhe um pouco de mim comigo. A atmosfera não é tão contaminada que não se possa respirar o próprio ar, só o suficiente pra se sentir o perfume. Então, entre, passeie, não se preocupe com a saída, é um tempo muito curto.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Vidro

Não. Seque o rosto. E vire de frente, lute justo, lute. Se não confia na defesa de seus próprios olhos, por que está aqui? Vamos fazer certo. Te importa vantagem? A mim não importa. Esqueça o inverno, esqueça o verão, agora é a era do vidro. Olhos, testa, mãos de vidro, suor e peito de vidro. Vai, enterra as mãos em mim se acha que consegue, me reviro no mar de sangue que envolve minhas mãos no espaço de tempo em que você hesita começar. Conto meus passos, cada marca. Seco e escorro, de uma vez, de sumo e prata amarga. E você encara, balbucia e me fere. Porque, agora, é infinito. De dor e de mágoa, calculo e me basto, mas só pelo tempo de acabar.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Letra b), e você?

Temos duas na banca. Eu sei bem, veja só, dois tipos: desiludidos e frustrados.

Sick 'N Done

Come to see me
Come to hold me
I'm on my own now
Can't you see I'm broken?

I want your shoulder to I hit my front
And want your chest to swallow my suffer
All my hope is over
All my pride is stolen

I don't know my enemies
And I can't reach my allies
If I throw up my life
Can you hang my hair?



To both of U

domingo, 22 de janeiro de 2012

That's it. (the little story)

There was a big girl, downtown, she didn't mind to be stolen. There were two men too, one was Foot, a black, tall, hatted man. The other was a very nasty one, too white, too thin, and too bad, with his slim face. This last one, in a certain moment, after he saw the big girl, he came to her and asked, like a green and viscous snake, "Hey pretty girl, you're so good-looking, this neighbourhood don't deserve it... wouldn't you like to give it to aaaall the world?" and she said "Get out of my shoulder, Mr. Mouseface! I know you, and even if I didn't, you're so ugly with your bad voice and small eyes that I would never take a step at your side, your little serpent."
If she were not that big, he would eaten her. That's it.

Mind blue

Why do I feel a hole
a indescribable hole down inside
a big, cold and black one?
Beware, don't you fall down there

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

De tintas

Quente, pulsante, mas nem penso nisso. Escuro, liquido vivo, parte de algo muito maior e obscuro. De metais e mãos, dedos, unhas, punhos, saindo, libertando-se, pra mim. Sob meus olhos, jorra, escorre, simples, puro, magnético. Metal sedoso de sabor e ideais intrínsecos, livre de todas as regras e significados fixados e comuns. Livre de consciência e memória, ele apenas é meu, que venha a mim.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Naich Daicht Vliv



Flash. É manhã e eu escuto sirenes. O som e cheiro da cidade acordando. Até os bocejos e máquinas de café.
Tudo quieto. Din se move no canto do quarto.
  - Levanta.
Prevejo seus olhos abrindo.
  - Não temos tempo hoje?
  - Nunca.

de violência

Esse fulgor que me amassa em tua direção. Quero esmagar teus ossos com os meus, te tomar como um vácuo perpétuo. Consumir cinco vezes o inteiro e suas partes. Destruir você, eu, e o espaço entre isso.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Seu desenho na parede

Detesto
Amo
Minha outra vida
Detesto me apaixonar por um sonho.

Antigo Manual Atros Piegas

Arrancada a mais limpa semente
Jogue-a em carne viva no chão.
Só será necessário um pequeno buraco.
Ela deve crescer sozinha.
Desenvolverá do centro para fora.
Nela serão injetadas as Leis.
Todos os teoremas, diagramas e dissertações
Postos todos os dias pontualmente
Seus venenos para a insistente praga
De filosofia poética, natural e utópica.
Dessa, já não mais, semente, deve-se espremer
Até a última gota de seus poros
E deve-se testá-la até a mais fina fibra do caule,
Que, com o tempo, poderá acabar criando
Um certo mofo anárquico.
Mas tudo bem, as Leis primárias farão efeito.
Sempre faça uma poda em suas idéias e ideais
Ou ela pode acabar destruindo a calçada
Ou o mundo.
Reprima, sempre que necessário,
A força de suas raízes.
Mas se, mesmo assim,
Ela sucumbir à arte,
Desista.
Ela virou um incontestável ser pensante.

Sabe-se lá quem
Telhados e casas pintadas
Garotas bonitas de vestido
Janelas limpas
Arvores e sucos

Uma dança uma noite
Um sol numa tarde
Um papel de recado
Uma lembrança amena

A lembrança falsa
Não é mais real nem menos
Que todos os coloridos levados
Pelo tempo e pelo sol

Nunca dançaremos juntos
Nunca te cantarei uma valsa
Tudo que veremos
Vai ser muito menos que aquele porta retrato
A valsa finda,
Tu cantas, eu choro,
A alegria compartilhada é linda,
E tua boca ao cantar fica ainda mais perfeita,
Um lábio no outro,
Lábios os quais nunca beijei,
Mas por tanto tempo desejei,
Lábios esses que por dias me criticou,
E por dias os amei mais e mais,
Então canta, mesmo que não seja para mim,
Pois em minha mente,
O canto que vem de teus lábios será sempre meu.

                            Eriko Renan

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Quero arrancar essa pequena garra que aponta de mim. Essa pequena coisa cinza que sai do meu peito e fere. Meu coração não acolhe isso como à uma cria, tal útero pulsante. Essa pequena coisa, cinza, áspera e tão própria de si, nada mais é que eu, uma pequena mão acarretada de minha existencia.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Anna de chapéu

Roendo de forma cuidadosamente displicente a unha, Anna mira as letras inexistentes à sua frente. Lembra-se de não parecer tão procrastinadora e desfaz-se da atividade. Apóia a cabeça na outra mão, que se apóia sobre o cotovelo, que se apóia na mesa que, por sua vez, apóia-se mais firmemente que ela toda. Olha para a garotinha loira de olhos levemente puxados.
- Não me olhe assim, Louin.
A loirinha do retrato não se move nem um milímetro. Ela ouvia o silêncio de forma abusada. Capta de novo o olhar verde da garotinha, suspira, troca a mão que apoia a cabeça. Dessa posição, o retrato de uma moça sorri para ela, meio cega pelo sol, que, ela não deixa de notar, não está tão forte assim. Angelique. Tudo sempre girara em torno dela, até os braços de Anna.
- É, é, eu sei, não é sua culpa. - diz, sem olhar exatamente pra nada, que era precisamente o lugar onde deveria estar escrevendo. - Mas eu bem que gostaria que fosse. - resmunga por fim.
Levantou, tão abruptamente que a cadeira balançou atrás dela. Buscou água, resolveu procrastinar de forma mais saudável.
Durante um tempo indeterminável, o mundo foi sugado para o fundo do copo, só o que existia era o cristal líquido que ela sorvia hipnotizada. Tanto que, como ela não havia notado isso, quando ela acabou, virou-se para frente de novo e retirou o copo do rosto tão despreparadamente que ficou tonta, toda a conexão perdida. Essa não era a idéia dela de saudável, mas acontecia.
Posicionou o chapéu confortavelmente encaixado na cabeça. De repente ela respira. Bem isso, assim, do nada, ela percebe uma respiração verdadeira, como se há muito tempo não o fizesse. Anna começa a sentir, tem que voltar para o lugar da criação. Antes de chegar na sala, pisca nervosa. Chega até a mesa dançando, estava vindo.
- Vê, Louin, que lindo! - dizia, enquanto ia sorrindo e anotando.
Mas ela não falava mesmo com a garotinha dessa vez. Era apenas reflexo, ou hábito de se dirigir à alguém, ou distração. Seja o que for, dessa vez, a loirinha também não respondeu. A resposta foi a melodia que tomou conta do lugar, de Anna para fora.
Depois de saciada, ou quase, ela suspira, sem falar com nenhuma das duas.
- É, isso não muda tudo. Quase nada. Mas ainda tá vivo.