sexta-feira, 6 de maio de 2011

Viajar

Ter um carro. Partir. Viajar à noite. Sair ao som das primeiras lâmpadas. Aproveitar o frio e o silencio da madrugada. Sentir o leve claro e calor dos primeiros raios de sol. Abrir as janelas. Cantar alto ou dormir numa tarde muito quente. Sonhar ou ler numa noite chuvosa. Passar pelas cidades nas suas noites. Suas luzes, seus abençoados silencios. Aproveitar a verdadeira Lua. Dar carona, sem grandes danos. Perder. Achar. Juntar alguém. Despedir, sem grandes danos. Acostumar. Se perder. Ganhar dinheiro, pagar coisas. Comer uma boa refeição quente em algum lugar. Cruzar fronteiras. Talvez, voltar.

Chá


Vai, vai, torna teu chá, segue tua própria casa, vai em teu sono. Esse cheiro que vem te encanta, não? Qualquer coisa é uma bela coisa, se é que tu me entendes. Vai, te deixo em paz. Mas promete-me uma coisa. Não te deixes diluir em qualquer color noturno, nem assim assim.
Posto que fragor é tórrido.
Posto que dolor é tácito.




Shot by M.W.
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Vista


Chegamos um tanto atrasados. Quinze livros nos braços eu e Vera nenhum. Fomos passar por um espaço apertado entre duas cadeiras e eu acabei pisando no pé de uma moça, e pisei em cheio. Derrubei um livro. Apanhei-o e pedi desculpas, e eu também a estava atrapalhando, ela, no entanto, apenas sorriu gentilmente e acenou que não, que não havia sido nada. Saí e me sentei, um tanto constrangido.

Chegamos atrasados. Antônio sem uma mochila para evitar o malabarismo com aqueles livros. Fomos passar por um espaço muito pequeno, que eu soube na hora que daria mais trabalho que sentar logo na frente. O Antonio, cheio de cuidado, acabou pisando rapidamente no pé daquela garota e derrubou um livro. A garota nem o apanhou para ajudá-lo. Ele pediu desculpas, ela, no entanto, apenas sorriu sarcasticamente e fez que não. O pobre Antonio saiu derrubado.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Noite (de alguém)

     Ele toma fôlego. Ela o surpreende. Ele se contém para não dizer “eu te amo”, ele não deve fazer isso, sabe que não cairia bem, nem para a garota nem para os dois. Não que ele sinta mesmo isso. Não demora muito ele se recupera e olha para o lado, mas ela já está fechando a calça e assanhando o cabelo.

     Ela estava no bar, olhava para as pessoas procurando algo interessante, ela já é conhecida por ali. Ele estava com ela. Ela bebe quase como um pirata, mas isso não altera em nada sua maneira, apenas talvez torne seu sorriso mais atraente. Ele a quer.

     Ele a chama e se levanta para alcançá-la antes que saia. Diz agarrando-a:

     – Ei, tá indo aonde? Você não quer ficar... mais um pouquinho? – rindo-se, olha para baixo.
     Ela olha para baixo, sorri e diz, já indo para trás:
     – Sem querer ofender, mas você vai precisar de muito mais do que isso para me fazer ficar.

     Ela anda pela noite, o ar frio alfineta seu humor. Ainda não tinha chegado ninguém que a fizesse querer ficar. Mas ela não esperava que chegasse.

Impossibilidade

Todos esses meus desejos, vivos verdes e quentes, desejo-os e me atraem incontrolavelmente.
Mas se, enfim, possuísse seus objetos, não saberia o que fazer com eles.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Mistério

Detesto quando, como nos livros, descobrimos que o que até então era Mistério, não passa de uma realidade, comum, escondida sob uma manta.
Mistério é uma coisa, realidade tem que ser outra.

domingo, 1 de maio de 2011

Estrada da Noite

Veja meus dentes, recue ou vai experimentá-los, recue, eu sou pior que você.

Olhe, amor, tem passarinhos no teto.



Você já viu o teto? Tem passarinhos. E florezinhas.
Vamos, abra os olhos.
Diga, sou eu ou o teto que você não quer ver?