domingo, 22 de julho de 2012

Chávenas

Sinto que conheço Eleonor. Eleonor nem mesmo me sabe, no máximo, talvez, como se pegar olhando um hamster numa loja, e depois se continua andando. Conheço Eleanor pela cor, a forma, a mente estranha, e até o cheiro, se me perguntar. Gosto de Eleonor, temo Eleonor, sua estatura, seus olhos meio amargos sempre olhando pra outro lado. E existe a distancia como a entre a platéia e a dançarina no palco. Deixa assim, Eleanor não me precisa saber.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Aquela moça, vai andando bem ali, a moça vai andando com uma boca que é minha. Minha carne, prazer. Dentes, comida, fumaça, minha boca.

domingo, 15 de julho de 2012

Uma noite comum. Uma festa de rua comum. Mas a noite inteira se apossou dos olhos de Miguel. E nem nada. Continuaram andando, conversando, comprando, comendo. A noite não tinha estrela, uma nuvem ou outra corria medrosa nos olhos de Miguel. A moça via, mas não via também, como paisagem de janela refletindo. E redemoinhava a noite no corpo. Miguel tinha uma boa mira, sempre acertava pelo menos um brinde da barraca de tiro. O anjo da noite carregou vento na vista, trouxe um assobio fundo de começo de cegueira, e a noite girava, girava. E Miguel parado. As luzes, como sombras, eram também noite por dentro. Gritava quieto o assobio escuro na vista, um sorriso sem movimento petrificava o seu rosto. Espera, sorria, acerta Miguel! Silêncio.
Vira. Miguel crava o chumbo na têmpora de Catarina.

domingo, 8 de julho de 2012

Einsamkeit

Ela se engancha nos próprios braços. O silencio que entope seus olhos. O calor que amortece suas veias em profusão. Seu sangue solitário percorre possesso nos dedos sequiosos a face rebelde de sua pele. Todo seu corpo pulsa, ela é toda coração. É inegável neste momento, está viva. E sente, vibra, quente de enlevo e frenesi.
E nesses braços seus que a enlaçam com o ardor da morte, repousa a fria saciedade da inconsciência. A saber, seus lábios sem beijos, que o amargo em seu peito não é o início da loucura.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Olhos

E ali Aira chorou. Chorou pra caralho. Como o céu todo chorasse, sua dor e liberdade a contagiaram. Ela chorou como nunca fazia, especialmente tão próxima da sua dor, que sorria junto com ela sem, claramente, perceber. A dor dela havia tempos tinha passado da agonia de roupas pequenas. Ali, naquele dia, a lua dentro dela gritava, com ganas de enlouquecer a realidade, mas Aira sorria. E nadando no aguaceiro que caía do céu, seus próprios olhos afogando, Aira ainda sorria, porque sua dor, tão linda, estava feliz.