terça-feira, 30 de agosto de 2011

Caixa de Música

Desço à minha caixa de música. Sim, desço, deixo o som embalar meus passos que tremulam, tremem, antes do salto final. As notas, as pequenas, retumbantes, invadem, não, eu as permito. Entrem, vamos! Tomem conta, tudo em mim agora é vosso, ensinem-me a vida etílica das melodias em alto volume. Façam-me surda, fechem meus olhos, os embacem. Tomem minhas mãos e meu raciocínio, façam o que lhes é necessário para encarnarem. Desço, e as paredes desse corredor oscilam, firmes, frias, maravilhosas. E lá, sim, sim! Lá estarei, lá em baixo, minha caixa sonora, minha música ensurdecedora e mãe, estou e estarei, no meio, nos fins, dançando, juntando meu som, feamente, a tudo, até a música acabar.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Vai. Vira-te. Vive.

Vai. Vira-te. Anda e não olha. Sou dos sonhos, precisas acordar. Sou um chamado ao erro. Precisas andar pra frente, estou atrás. Sou amiga das algas. Das pedras. Vai. Tira minhas mãos de ti, afasta teu rosto, do outro lado o sol brilha, brilhará sobre ele. O que quer que aconteçará, te precisa. Reza para que a força do vento não te leve meus úmidos esporos de tristeza. Reza para ti. Vive.

Paravoxo

Nós somos uma antítese
de duas coisas iguais.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Frio

Hoje saí na rua, triste.
O sol veio e colocou o braço no meu ombro.
Disse: Vamos, vou com você.
Então fui pra sombra.

Não mereço complacência.

domingo, 7 de agosto de 2011

Guiomar


Guiomar era apenas ela. Não era uma Guiomar, não batia com seu nome. Não era muito bela, nem muito sem graça. Muitos faziam idéia dela. Idéias opostas, pelo seu nome e pela sua completa falta de fama. Falava, sim, tinha amigos, conhecia o dono do armazém, a dona do bar cujo marido morreu, as crianças do bairro. Mas não era uma Guiomar. Era uma mulher de fibra, sim, sorria com certa facilidade, usava vestidos simples, trabalhava. Aí a única coisa que tinha de Guiomar, ela era inegavelmente mulher.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sorriso de Desdém

Quando o peso é muito maior do que tudo que se pode ver
Tudo deixa de importar
Que bata a chuva
Que o vento açoite
E cai a vergonha
E cai o medo
Fica-se momentaneamente livre
O desvario dos maiores pesos

O insustentável peso de ser

Não quero ir nem voltar.

Não quero ficar.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Despedidas

Hoje me despedi de mim.

Vi a mim passando pela porta, me abraçando e dizendo até mais.

Não soube como me fazer ficar.

Não soube como ficar.

Tonta, não soube dormir.

Andei a casa sem mim.

E não entendi como tinha andado sem mim a vida toda.