terça-feira, 30 de outubro de 2012

Cabide


Uma vez vi um casaco do Al Capone. Era meio moletom meio suéter, assim marrom, azul e creme, como quando a gente quer se esquentar num dia frio. Era um casaco que só se comprava se o dinheiro em si valesse alguma coisa, se não, só ganhando, herdando.
Até hoje esse casaco deve estar em algum lugar sem eu nunca o ter tocado. Não consigo tirar esse cabide de mim.

domingo, 21 de outubro de 2012

Sobre as casas


Se te prometesse levar até as estrelas
e mais além onde dormem os sonhos
Não acharias lindo nem meigo, senão
suporias que o mundo me enlouqueceu
Daí não dançariamos uma valsa cantada
aos pés de Calisto e seu filho, e teus olhos
Não se iluminariam eles com o brilho
dos meus ao ver nossos pés no céu

Andaria até o próximo virar de tempo

para ver onde acaba o teu olhar e voltaria
Pois não sabes que minha vontade de andar
se estende até onde alcança tua companhia
Mas teus pés cansados e meu vento frio
fazem o caminhar meio cego e sucinto
Enquanto minha mente baila sozinha
esperando uma parceria que jamais vem

domingo, 14 de outubro de 2012

São

As horas que passei pensando, incontáveis horas, me deixaram mais vazio, se é possível. Todas aquelas luzes pairando sobre a cidade, as nuvens cegas em cima. Todas as vidas que existem nessa terra, e em tantas outras, essas vidas se dirigem tão exclusivamente dispersas, tão distantes da minha num sentido pessoal. A minha também segue num rumo tão insignificante para todos. Mesmo que eu houvesse carregado ligações em minhas costas, mesmo que houvesse honrado o que chamam carinhosamente de laços, entre outras coisas de afeição e responsabilidade, mesmo que houvesse feito algo a ser lembrado, não esqueceriam todos, eventualmente? Mesmo como homem comum, talvez pai e marido, morrendo eu, não seguiriam vivendo ainda meus familiares? Não estou mesmo perguntando coisa alguma, pensar por si só envolve esta forma de conversar consigo. Constato nos diálogos coisas que, em fato, já sei. Eles ultrapassariam esse corte passageiro na existência, e depois deles, nada mais de mim existiria. Essa vaidade de existir, na maior parte do tempo não a possuo. O que me incomoda é o porque. Não o porque em si, mas o porque para todos. Por que cada um continua vivendo nesse redemoinho de luzes tão distantes quando ninguém lhes disse porque fazê-lo? É fácil existirem dúvidas de tal natureza quando não há um sorriso encantador que lhe turve a vista, alguém que lhe aponte as estrelas. Mas só esse pedaço de esquecimento vale a pena todo o resto? Ou exatamente a falta dele? Não vemos, decerto, tudo como opcional. Creio, sim, que os seres habitantes do redemoinho sequer pensam a respeito, por sabedoria ou falta de aptidão. A conclusão, então, é que o mal em si é pensar. É a origem da loucura. Mas nunca me sinto tão horrivelmente são como quando estou louco.