quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Alastrar

Um tanto de difusão
um descontrole obtuso    qualquer coisa que não preste, na verdade
  indeciso e nada hesitante
seja como seja, seja qualquer coisa que seja mais um pouco que nada
que não serve
  vai continuar não servindo, mas um pouco de cada coisa que sai
nada muito importante, claramente  tão evidentemente inútil e vago
que no entanto talvez aproveitavel
mas sem intensão, alguma hora sirva
 mesmo que pra não servir a nada

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Espelho

Que irás fazer
Me querendo assim e sem querer
Quando eu quiser alguém
Que não seja você

domingo, 11 de setembro de 2011

Preparavam-se às pressas, em pares, saindo da superfície coberta de neve, subindo em locais altos, árvores, não confiavam suficientes os muros e portas para os protejerem da matilha de poderosos lobos. Souberam, eram tempos difíceis, que alguma coisa estava para acontecer. Passariam, talvez, dias montados nos postos, alguns alcançavam ainda folhas, coisas que pudessem usar. Porém, mais tarde, aquele grupo, no chão, cercados, ouviam apenas. Nada havia acontecido. Mas escutavam atentos, tensos, discutiam pausadamente, sentindo no ar, sua habilidade experiente de povo que sobrevive. Um uivo. Logo depois outro, diferente. Ambos estranhos, fortes, denunciando uma proximidade não existente. Calaram-se, depois, tentaram, confusos, decidir o que significavam. Mas ela, ela disse.
Um foi de macho, o outro de uma fêmea. Ela sofreu. Ele agora sofre, ela era a vida para ele, sua luz.
Não se sabe se nasceu.

PÍLULAS

Dormindo com lobos

Tudo em mim
tem algo de teu.

sábado, 10 de setembro de 2011

5 Milhas

Agora, chegando, em lugar nenhum, desmonto, como mole jogo de peças de carne dura e fria. Descendo de meu posto, escorro, quente e em pedaços, forço a dor, que em porções grandes, se recusa a sair por meus poros. Terminado meu trabalho, preciso estender-me, distender meus atrofiamentos. Que dor. Dispo-me com cuidado, retirando as roupas brancas com a atenção de quem localiza feridas não previstas, devagar. Assim, sem nada que cubra minhas dores, posso ver minhas formas tortas e machucadas, mas não as quero ver, não necessito vê-las. Todas as preparações maquinais são feitas sem que eu as enxergue. Ando com pés em chão frio, não os sinto, deito em cima de minhas feridas, as sinto tampouco. A inconsiencia não me suporta, também não o consiente, concorro a um estado suspenso de inanição vazia. A maldição da força não me deixa esgotar-me, não me deixa sumir num eco de nada quando já não posso nem me mexer, assim, permaneço com um único foco de luz, com tudo a puxar-me e apertar-me quando não sei o que mais posso pedir. Se por fim a noite me rende, procuro, no fim, não pensar que, logo que se acabar seu anestésico, nenhum ópio me tirará do contínuo, eu ainda estarei aqui.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Falta das uvas

Dê-me meu vinho. Ande, passe cá. Não gastei dinheiro à toa. Ah, o dinheiro era teu? certamente, ainda é incomensurável o que me deves, meu amor.
Vamos, passe. Ainda não abriste? Dá-me, deixa que eu mesmo faço.
Sim, agora sim. Agora sinto-me melhor. Que este álcool tão minguado carregue meus pesos em seus ombros, pouco me importa se me subirá neles depois, com todo o peso junto. Livre-me deles agora, é tudo o que peço. Que olhas tanto com esta cara besta? Que me olhas também? Não faças esta cara de espanto. Olhas o vinho? Queres? Não, não meu bem, não suportas arcar com outra entidade a tentar sobrepujar a tua. Pensas que estou sendo sovina? ora, não, apenas te conheço bem, e sei o efeito que terá esta vida com este ambiente. Sei que não insistirás, não é do teu feitio a convicção.
Sinto agora que poderia dançar. Não, não te preocupes, não dançarei, apenas porque dispende muita energia manter-me comigo.
Que falas? Ora, virtude! Virtude é ser vilipendiado inopinadamente e sem contestação pela vida? Deixe-me, eu mesmo, fazer o que me apraz dela. Que me importa se é virtuoso ou não?! E não exageres, pois, que também não estou a fazer nada demais. Nada que não me seja merecido.
Ris, achas que mereço o que me vier? O que tem me vindo? Que sabes tu? Nunca tomas partido, tampouco fazes alguma coisa, não sabes nada. E vamos, deixe-me descansar, um pouco de tempo, um tanto de liberdade e outro de álcool não hão de fazer mal nem mesmo a mim.
Vai. É o melhor que fazes mesmo. Deixa-me engolir sozinho tudo que sai enquanto entra o vinho.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Tarde

O carro velho, o radio ligado na velha estação, aquelas velhas músicas. Ela adorava aquilo. E aquelas tardes com cheiro de lembrança, bons momentos de não falar nada, só deixar a musica, os raios do sol e o movimento do carro te preencher. Ela tinha certeza de que isso ia acabar. Mesmo sem saber porquê.
Vamos, arranquem-me a cabeça fora! Quem sabe, assim, eu paro de ressucitar?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Agora

Agora. Agora começo a sentir.
Agora começo a sentir tudo.
Sinto. E não sei se preferia quando não sentia.
Não sei.
Raiva. Tristeza. Dor. Impulso. Injustiça. Raiva. Dor. Agonia. Angustia. Raiva. Raciocínio. Escape. Dor.
É tudo.
É tudo o que sei.