quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Falta das uvas

Dê-me meu vinho. Ande, passe cá. Não gastei dinheiro à toa. Ah, o dinheiro era teu? certamente, ainda é incomensurável o que me deves, meu amor.
Vamos, passe. Ainda não abriste? Dá-me, deixa que eu mesmo faço.
Sim, agora sim. Agora sinto-me melhor. Que este álcool tão minguado carregue meus pesos em seus ombros, pouco me importa se me subirá neles depois, com todo o peso junto. Livre-me deles agora, é tudo o que peço. Que olhas tanto com esta cara besta? Que me olhas também? Não faças esta cara de espanto. Olhas o vinho? Queres? Não, não meu bem, não suportas arcar com outra entidade a tentar sobrepujar a tua. Pensas que estou sendo sovina? ora, não, apenas te conheço bem, e sei o efeito que terá esta vida com este ambiente. Sei que não insistirás, não é do teu feitio a convicção.
Sinto agora que poderia dançar. Não, não te preocupes, não dançarei, apenas porque dispende muita energia manter-me comigo.
Que falas? Ora, virtude! Virtude é ser vilipendiado inopinadamente e sem contestação pela vida? Deixe-me, eu mesmo, fazer o que me apraz dela. Que me importa se é virtuoso ou não?! E não exageres, pois, que também não estou a fazer nada demais. Nada que não me seja merecido.
Ris, achas que mereço o que me vier? O que tem me vindo? Que sabes tu? Nunca tomas partido, tampouco fazes alguma coisa, não sabes nada. E vamos, deixe-me descansar, um pouco de tempo, um tanto de liberdade e outro de álcool não hão de fazer mal nem mesmo a mim.
Vai. É o melhor que fazes mesmo. Deixa-me engolir sozinho tudo que sai enquanto entra o vinho.

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