sábado, 10 de setembro de 2011

5 Milhas

Agora, chegando, em lugar nenhum, desmonto, como mole jogo de peças de carne dura e fria. Descendo de meu posto, escorro, quente e em pedaços, forço a dor, que em porções grandes, se recusa a sair por meus poros. Terminado meu trabalho, preciso estender-me, distender meus atrofiamentos. Que dor. Dispo-me com cuidado, retirando as roupas brancas com a atenção de quem localiza feridas não previstas, devagar. Assim, sem nada que cubra minhas dores, posso ver minhas formas tortas e machucadas, mas não as quero ver, não necessito vê-las. Todas as preparações maquinais são feitas sem que eu as enxergue. Ando com pés em chão frio, não os sinto, deito em cima de minhas feridas, as sinto tampouco. A inconsiencia não me suporta, também não o consiente, concorro a um estado suspenso de inanição vazia. A maldição da força não me deixa esgotar-me, não me deixa sumir num eco de nada quando já não posso nem me mexer, assim, permaneço com um único foco de luz, com tudo a puxar-me e apertar-me quando não sei o que mais posso pedir. Se por fim a noite me rende, procuro, no fim, não pensar que, logo que se acabar seu anestésico, nenhum ópio me tirará do contínuo, eu ainda estarei aqui.

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