quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Black Poison.

Orlando entra comigo. Ele me viu levar um soco, bem na cabeça. Minha cabeça pesa, minha fronte dolorida abriga, a contragosto, meus olhos secos e ardidos, e guia meu corpo mole. Adam também está comigo. Empurro a barra de metal da porta de pressão, sentindo a sujeira na palma das mãos. Entro, só eu deixo pegadas. Ouço o fechar da porta atrás de mim e o pouco que pude ver com a luz fria da rua, altera-se para uma penumbra adornada de almas soturnas. O único som possível é o da poeira se movendo no ar estagnado. Vou andando, incerta, mas outro lugar não chega a ser uma cogitação. Um passo, som, eco. Outro passo, som, eco. O eco se perde surdo no movimento das partículas no ar. Paro, algo me diz para parar. O silencio é uma massa que me empurra os ouvidos. Então começa. Um uníssono, nossas vozes juntas, aterrorizantes, de repente. Nossas vozes, iguais, cantam a mesma coisa, alto, muito alto nos meus ouvidos já maltratados. Depressa, várias partes de meu consciente me mandam, tape os ouvidos, arranque-os. Mas só o que faço é me encolher em mim mesma, olhos arregalados quando eu mal os podia abrir. De todos os lados vêm e começam a ficar ferozes em seu arranjo magnético e perfeito, cujo sentido das palavras não consigo entender estritamente, não resisto nem para manter os meus. Meu pavor começa a entornar de meu sangue e saio cambaleante, tento andar sentindo minha testa úmida e uma loucura me dilacerando a garganta. Sim, sei que Orlando e Adam estão, mas que vultos temerosos são, eles também não sabiam o que ia acontecer. Só percebo que as vozes pararam quando sinto minhas unhas sangrentas cravadas em minhas palmas. Mas pouco muda, percebo também. Agora percebo o som que não tinha percebido. Um coração batendo. Envenenado.                                     

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