domingo, 20 de novembro de 2011

Dossel

Naquele quarto ela segura a cabeça do senhor com sua mão de unhas pintadas, segura com muito carinho o rosto cansado e gordo do homem, seu nariz bexiguento, seus olhos brilhantes quase baços em sua calva cabeça. Ela está de camisola e cabelos soltos sentada mais alta no pé da cama. Mas não há maldade ali. Naquele quarto, de pintura forte e luz fraca, de móveis ordinários e aparência vulgar, ali se paga pra ter, ainda que por um espaço definido de tempo, um pouco de sonho. Ela já não é muito nova, tampouco é velha ainda, mas ali ela tem todas as idades, vira mãe carinhosa, irmã devotada, adorável esposa, filha reencontrada, amor perdido, o que necessitar o coração dos homens e mulheres que entram ali, com dinheiro e sede. Ali as dores são aguçadas e adormecidas, lembranças existentes e inventadas surgem no melhor perfume barato, ela fica mais bela, eles ficam mais novos, até a cama ganha dossel.

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