segunda-feira, 4 de junho de 2012

Persianas

Ela passa o dedo no sapato, no brilho apagado no sapato. Seu quarto reluz a luz que lhe falta. Seus olhos estão cansados, os dedos de pura seda de Regina são frios e tensos. Ela andou, olhou, virou-se e revirou-se dentro dos calafrios que a perseguiam num incessante jogo de incesto e ódio. Quis amar, Regina era uma menina. Uma contradição de inocência e loucura. Ela foi a limpar seu armário, lá dentro, no entanto, na escura limpeza do armário de Regina, havia revolta e perdição, havia a tristeza de todas as gerações, bichos inomináveis e o pouco mais que as letras não a ensinariam. E a lucidez da menina, cansada como a penumbra que repousa inerte na sacada de seus olhos, andou passo a passo para trás da cortina de seu quarto, que fazia o silêncio da tarde. No quarto, encolhida em seu vestido, Regina toca a luz de seus sapatos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário