sexta-feira, 30 de março de 2012


Gia. Tão magra. Suas roupas folgadas dançavam em seu contorno rápido. Roupas sem graça. Gia parecia... parecia quase um fantasma. Ela sorria e falava, mas as folgas de suas roupas se moviam e seus cabelos mal presos lhe obstruíam um algo que não se adivinhava. Tinha uma voz bonita, dava pra ver, altiva até, gesticulava. À certa altura, Gia levantou-se, rápida de não se perceber de onde tinha vindo, foi ter com um rapaz que estava no patamar de cima. Escorou-se e se esticou para por o rosto e os braços, que gesticulavam ágeis, ao alcance do moço. Então, nesse movimento, seu blazer preto simples, tão sem graça, retesou-se ao corpo e esticou, deixando livre uma pele limpa e clara acima da cintura da calça. E ali, naquela posição e simplicidade, Gia era linda.


Pobre Léia. Tão triste algo em mim se sente em ver tua beleza tão insuspeitada. Pálida, muito pálida, não como tua pele fosse alva, mas como alguém que passa muito tempo em silencio. Cabelos tão negros e singelos, que te emolduram tão naturalmente o rosto que, parece, nunca será feliz. Tão intensa torna-se minha mente a vaguear o olhar por tua aparência recolhida, teu pescoço longo e claro, corpo acolhido e recluso, pés juntos. Vejo-te invariavelmente de olhos baixos, olhos escuros, não de submissão, mas de algo mais profundo. E mesmo tendo teus olhos postos à altura do horizonte, ainda sinto a falta que olhos baixos fazem sentir.


O garfo suspenso logo abaixo da cabeça apoiada nas mãos, unidas sobre a boca. Mexer, arrumar, uma garfada. Aquela noite Marin jantou sozinha. Muitas mesas, nem todas cheias. Mas Marin jantava sozinha.

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