quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Elma


Era uma menininha pequena. Os irmãos que já sabiam andar estavam lá. Todos estavam jogando queimado numa sala, a sala de “hotel” como era chamada a sala dos almoços de domingo na casa da madrinha, e ela foi queimada. Eles não podiam jogar a bola muito alto por causa do teto, os mais velhos sempre pegavam. Ela era a menorzinha e arrastou e subiu numa das mesas do canto para poder pegá-la. Os mais velhos, que teriam dez ou onze, deixaram, era brincadeira. E nessa brincadeira ela se foi. A menininha traquina de seis anos, rostinho um tanto arredondado e moreno, nariz arrebitado e cabelos escuros, nunca cresceu. Os irmãos só escutaram o baque e viram a mesa virada e ela chorando no chão. Levaram bronca e foram para casa, tentando fazê-la parar de chorar para não levarem mais bronca. Ela continuou choramingando, enquanto a mãe dava-lhe um banho no quintal, dizendo que estava com sono, e depois dormiu. Quando acordou cuspia sangue. Foram chamar um médico, que ficava longe nesse tempo. O tal passou um comprimido apenas, sem nem ir vê-la. O pai, quando foi localizado, não estava sóbrio o suficiente para providenciar algo. Ela foi levada ao hospital de uma cidade vizinha.
Lá, a menina que tinha o mesmo nome que teria, algum tempo depois, uma de suas irmãs que também viria a morrer, morreu à meia-noite, deixando uma última imagem do seu corpinho pequeno embrulhado na cama para a irmã de apenas nove anos que a acompanhou até o hospital.

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