quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ando solitariamente nos vãos de casa e, ainda que faça muitos séculos, escuto teus sussurros simultâneos...

Uhuuhuu...
Shhhhhh...

E todos se calam, as estantes, as cadeiras, os tapetes, as frutas e a mocinha nos quadros. Só o tempo rui e tiquetaqueia dentro da caixa do relógio.

***

       O mesmo tempo que tomei por domado há muitos invernos atrás e que, agora, se mostra um corcel bruto e selvagem diante de mim. As paredes são testemunhas de que mal posso me cuidar e por isso, num tombo ou n’outro, elas me servem de apoio para que eu possa chegar a meu destino. Dou conta de minha incompetência diária enquanto sou consciente dela, mas aqui não há mais do que coisas frias por mim.

       O dia é suportável, já foi melhor, todos sabem, de qualquer forma ainda estou bem enquanto há luz natural invadindo minhas velhas janelas, mas quando o céu começa a enrubescer, anunciando a chegada da escuridão noturna, o frio percorre minha espinha o medo invade meus olhos e eu não sei mais onde é seguro. Na verdade eu nunca soube, não é?

       Foste-me inútil em tudo o que era bom, se queres saber, e não servistes nem a si próprio, para o mal que um dia foi teu desejo. Teu veneno apenas feriu meu corpo, mas te corroeu por completo, e eu, ainda que louca, tenho algo que valha a pena: meu passado. Tudo que veio antes de tua imundice, e se me permito, ainda poderei ter sonhos, não hoje, não agora, mas sei que um dia. No entanto tu, desde a infância eras um porco pútrido, que hoje sei e que teus genitores sempre souberam e até que foram precavidos ao se livrarem do teu peso. Nem semente aproveitável de ti saiu e o primeiro a ser morto por tua criatura monstruosa foi tu mesmo.

       És um infame. Sempre foste. Estou morta desde a primeira vez que fitei-te nos olhos.



By Señora Dias,
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