sábado, 11 de fevereiro de 2012

Nublado

Clara era filha da orgia. Poucos sabiam disso. Foi criada por uma senhora austera numa casa que em muito se assemelhava a um convento. Essa senhora, que Clara queria como a um feitor, pouco vestia-se que não de preto, pela pura habilidade de combinar-se com sua personalidade; e a casa grande e calma, sem outras vozes menos ocasionais, não oferecia mais encantos que a incentivassem. Nesse silêncio, Clara cresceu sem espaço para ser algo que ela não detestaria mais tarde.

Clara tinha algo com espelhos. Sempre parecia ver uma pessoa especialmente estranha neles.

A casa em estilo antigo, com sua floresta e suas portas grandes, ainda não era habitada por outras garotas. Clara ia desenvolvendo curiosidades opacas em sua personalidade, como sentir coisas que não estavam perto, e não sentir coisas que estavam. E ter gostos totalmente alheios a tudo, quando os tinha.

Como era de se esperar, talvez, a aparência de Clara era Apatia. Seus silêncios eram bem medidos e suas falas comedidas, mas ambos verdadeiros. E curiosidades menos opacas apareciam com o tempo.

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