terça-feira, 14 de junho de 2011

Caça às Bruxas


Medo. Resignação. Calafrios do pescoço às costas e agulhas no estômago. Olhar calmo. Todas as pessoas estão agitadas, não se sabe exatamente com que intenção, o que elas pensam, mas ela sabe, ela sabe quem e o que querem ver. Parece uma noite sem lua, mas ela sabe que ela está lá, atrás de espessas nuvens negras. Alguns percebem que ela está chegando, mudança nos rostos aparecem, ela teme mais esses rostos, e o que vai acontecer quando seus donos souberem a verdade, do que o que eles querem ver esta noite. Esta última noite. Ela não tem medo desta noite. A lua está lá. Ela sabe a verdade, e sempre carregou o peso dela, em troca do deslumbramento do seu encanto. Ela está sendo levada até o centro, onde as luzes já estão acesas. Suas mãos estão presas e suas pernas começam a pensar sozinhas, mas não, esta noite vai acontecer, ela já sente o calor alaranjado das luzes. Ela sente seus nervos aplacando-lhe o raciocínio em alguns momentos. Mas ela não tem arrependimento. Ela sente frio. Sim, toda sua vida ela esteve no frio, ela anseia pelo calor, pela consumação, pelas chamas que lhe sussurram seu nome. Ela não teme a dor, ela não teme os rostos, ela não teme o fim. Ela já não sente que eles precisam saber, não vê mais a injustiça. Ela está lá. E sim, mais delas estiveram lá e estarão por muitos séculos ainda. Ela está lá e seu coração quer gritar o quanto ela quer, o quanto ela sabe que vai triunfar esta noite. Então tudo começa. A luz laranja toma seu campo de visão e tudo o mais se torna uma confusão que ela já não tenta entender. Ela já entendeu. Ela entendeu pouco depois de nascer, e sente-se até tola por não perceber isso até aquele momento. E o calor de sete infernos toma seu corpo e leva seus pés e suas mãos. E todo o mal feito. E todo o tempo e o mundo deixam de existir. Ela acabou.

2 comentários:

  1. Caralho.

    De uma obscuridade que faz os olhos cantarem. O que, aliás, é uma característica de algumas coisas que eu venho vendo desde que comecei a vir aqui há um tempo.

    Esse me foi mais obscuro de primeiro momento, de primeira leitura. Porque li o título mas esqueci de associá-lo ao corpo. E aí comecei a fazer algumas associações alucinógenas, o que tornou, como disse, tudo ainda mais obscuro.

    Mas, percebendo o erro depois e ligando a cabeça ao corpo, esse nível de obscuridade diminui um pouco - só um pouco - e me foi possível fazer umas associações mais lógicas com o que está sendo narrado. O que não deixa, nem de perto, de tirar do texto essa beleza de ser construído dentro de uma descrição meio obscura mesmo.

    É claro que essas relações são totalmente hipotéticas de leitor. Eu comento sobre o que vi mas sempre dá medo.

    Gostei muito ainda porque o teu texto vai crescendo. Dá pra construir um nível crescente porque ele vai gradativamente puxando a gente pra dentro dele mesmo com uma força maior a cada passo, até o desfecho.

    Muito bom, viu?

    Até.

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  2. Obrigada Jaime! Sempre acho seus comentários muito interessantes. Até me ajudam a entender o que eu mesma fiz. Obrigada por sempre vir e comentar. (:

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