sábado, 13 de janeiro de 2018

Boca Ansiosa




Entortada pra direita, desce a porta entre estalidos, "open the gates!", com suas marcas e rachaduras secas, duas grandes à frente pra dois dentes grandes. Dentes-serra, mal cerrados no metal, finos, turvos, frágeis, lentos e apressados, acetinados no ácido, perigosos, nicotinados mas não mais. Por trás deles o silêncio gordo recua em pânico a língua acuada, em guarda, cobra - ladeada de atritos duros e danificados, "grandes como couves" que crescem e rangem dia e noite. No escuro das paredes, um raio-X de linhas brancas espinhadas, duas espinhas espelhadas de peixes mortos, cicatrizes na carne rosa, riscadas do obscuro até as presas. Carne mole presa na engrenagem do movimento perpétuo, abre-fecha, mexe, sempre mordendo presas. No fim de cada dia, o tremor que escapa é capturado em pequenas jaulas de pretos e brancos, pontos de insistência e sangue contido, detidos antes de saltar da boca ansiosa.



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