sexta-feira, 31 de agosto de 2018

HUNTER


https://open.spotify.com/album/4i2XIJtswPyQE6G46wpKpH?si=AsfQLl2-Q9Keoz5JooAzYA

"Eu estou caçando algo - quero experiências, quero diligência, quero liberdade sexual, quero intimidade, quero me sentir forte, quero me sentir protegida e quero encontrar algo de belo em toda essa bagunça.
Eu quero ir além de gênero. Não quero ter que escolher entre o feminino e o masculino em mim.
Estou lutando contra o sentimento de exclusão e tentando encontrar um lugar em que me sinta em casa.

Eu acredito que gênero é um espectro. Eu acredito que se nos fosse permitido ser algo no meio, não forçados aos extremos de atuar feminina ou masculinamente, nós poderíamos todos ser mais livres. Eu quero explorar como ser outra coisa além do que fui designada a ser. Quero explorar uma sexualidade mais subversiva, que vai além do que é esperado de uma mulher no patriarcado da nossa sociedade heteronormativa. Eu quero repetir as palavras "menina menino, mulher homem", de novo e de novo, para achar os limites dessas palavras que contrariam a vastidão da experiência humana.


Eu acredito na protagonista feminina, que não está simplesmente reagindo à história de um homem. Eu saio para o mundo e vejo ele como meu - eu quero algo dele - e não ser apenas um produto resultante. Estou faminta de experiências. Às vezes as coisas parecem claras, e outras vezes me sinto perdida. Me sinto forte e ainda assim vulnerável; eu uso meu corpo e minha arte como armadura, porém sei também que ser verdadeira para comigo mesma é estar aberta a ser ferida.

A intenção desse álbum é ser primal e belo, vulnerável e forte, ser a caça e o caçador.




- Anna"


***


"I'm hunting for something - I want experiences, I want agency, I want sexual freedom, I want intimacy, I want to feel strong, I want to feel protected and I want to find something beautiful in all the mess.
I want to go beyond gender. I don’t want to have to chose between the male and female in me.
I’m fighting against feeling an outsider and trying to find a place that feels like home.
I believe that gender is a spectrum. I believe that if we were allowed to be somewhere in the middle, not pushed to the extremes of performed masculinity and femininity, we would all be more free. I want to explore how to be something other than just what I've been assigned to be. I want to explore a more subversive sexuality, which goes further than what is expected of a woman in our patriarchal heteronormative society. I want to repeat the words “girl boy, woman man", over and over, to find the limits of these words, against vastness of human experience.
I believe in the female protagonist, who isn’t simply responding to a man’s story. I go out into the world and see it as mine - I want something from it, rather than just being a passive product of it. I'm hungry for experiences. Sometimes things seem clear, and other times I feel lost. I feel strong and yet vulnerable; I wear my body and my art as an armour, but I also know that to be true to myself is to be open to being hurt. 
The intent of this record is to be primal and beautiful, vulnerable and strong, to be the hunter and the hunted.

- Anna"

domingo, 15 de abril de 2018

Conselho de Lilith.


Mulheres sempre tiveram de ser caladas. Submissas ao julgo, emburrecidas. Comprimidas num espaço no qual nunca caberiam. Sempre encontrando fios de poder através do insuspeito - da casa, do marido, da prole varonil - por sua habilidade de manipular o disponível.
Guiadas à contrição, desencorajadas ao reconhecimento.

Quando mais evidente esteve seu poder, ameaçador, mais repressivo tornou-se o meio. Foi necessário abatê-las, caçá-las. Quando não mais por putas, por bruxas. Quando não por bruxas, por loucas. E quando não por loucas, por putas.

A maioria de si, com os espelhos mais embaçados, aprisiona-se pelo onipotente e disfarçadamente sutil status criado no início dos tempos, desde a ocultação de Lilith. As que, por brecha às restrições, rebelam-se ao irreconhecimento, buscam ser imagem, refletir, através da luta ou resiliência objetiva.

O fato é: algo temeroso reside na natureza feminina. Algo grande e poderoso que se opõe gradativamente à opressão.


Nos resta a todos a previsível incapacidade de negá-lo.

Be brave or be undone

https://youtu.be/F0kJmsHPT3o


"Be Brave" by Shara Worden

I am a bird in water, a whale on sand
I am the flood, the fire, the oil spill
I’m feeling scared and I am overwhelmed
And so I don my mask and finger bells

Sh-Sh-Sh-Shara now get to work
Sh-Sh-Sh-Sh-Sh-Shara this is going to hurt
Be brave dear one
Be changed or be undone
Be brave dear one
Be-ye changed or be-ye undone, undone

I am a slave, I’m under house arrest
I am the beater, I am beaten for less
Than being punk and feeling anger swell
And so I don my beaded dress and finger bells

It’s so hard, it’s so heavy
To be hungry, to be happy
It’s so light, it’s so easy just to be

It’s so hard, it’s so heavy
To be hungry, to be happy
It’s so light, it’s so easy just to be

Oh God, what would you do with me
Oh God, what’s my responsibility
God, what would you do with me
Oh God, what’s my responsibility

Be brave dear one
Be changed or be undone
Be brave dear one
Be changed, be changed, be changed
Changed

sábado, 13 de janeiro de 2018

Boca Ansiosa




Entortada pra direita, desce a porta entre estalidos, "open the gates!", com suas marcas e rachaduras secas, duas grandes à frente pra dois dentes grandes. Dentes-serra, mal cerrados no metal, finos, turvos, frágeis, lentos e apressados, acetinados no ácido, perigosos, nicotinados mas não mais. Por trás deles o silêncio gordo recua em pânico a língua acuada, em guarda, cobra - ladeada de atritos duros e danificados, "grandes como couves" que crescem e rangem dia e noite. No escuro das paredes, um raio-X de linhas brancas espinhadas, duas espinhas espelhadas de peixes mortos, cicatrizes na carne rosa, riscadas do obscuro até as presas. Carne mole presa na engrenagem do movimento perpétuo, abre-fecha, mexe, sempre mordendo presas. No fim de cada dia, o tremor que escapa é capturado em pequenas jaulas de pretos e brancos, pontos de insistência e sangue contido, detidos antes de saltar da boca ansiosa.



quarta-feira, 5 de abril de 2017

Encerre o ato.
Por trás das cortinas dos teus olhos se emaranham fragmentos dos bastidores de teus sonhos.
Tudo usado, gasto, com a poeira mal batida do teu ânimo.
O que já foi exibido, criado, recitado no teu palco malamanhado de pantomimas diárias, jaz amontado nos dois cantos onde a luz dos teus holofotes não bate mais.
Encerra teu espetáculo e tudo é recolhido, reavaliado, reutilizado, queimado em fogueiras para espantar tuas traças teimosas.
Te prepara para o outro dia, a próxima bilheteria já está pedindo assentos na fileira da frente, trata de tudo parecer limpo e cálido.
Por último, trata o teu silêncio úmido com respeito, ele é o elemento que segura em pé as paredes do teu teatro, ele unirá do ar os resquícios das personas tuas e as guiará para seu devido lugar nas estreitas coxias do teu enredo.
Tudo está quieto.
Agora, tudo que te resta é a arte esgarçada e insuspeitadamente fajuta respirando por trás de tuas cortinas fechadas.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

The wicked man is old
He fears without realising
A bold, shocking movement rises
The wicked man runs

The buzzing in his ears
He just needs to go
The deaf pounding of a drum
His lighter thought is a stone

He is on a chase
And his heart is the faster
Not knowing a path
Yet not stopping, all haste

The wicked man is mad
Does not rest, sore his feet
For a fire burns his neverhaves
The wicked man has the Death by his heels

quinta-feira, 14 de abril de 2016

4 3 2 1

Sou o apelo, o comedimento, a liberação, aquele olhar.
Sou o toque acidental, o sorriso ao acaso, a graça difusa da idiotice.
Sou o medo que habita o porão do peito e a certeza duvidosa de que tudo é um equívoco.
Sou todo esse desejo contido tremulando no fundo da garganta.